terça-feira, 15 de março de 2016

Encontro de Março





É comum fazer alusões a sofrimento ou sacrifício quando ouvimos falar da dor para parir. Que tal desconstruir um pouco a tão famosa “dor do parto”? Para isso, é preciso compreender seu significado.

A verdade é que desperdiçamos muito tempo das nossas vidas fugindo das mais diversas dores, pois aprendemos que só temos a perder com algo que é mais forte que nós, invencível. Logo, assimilamos que evitar toda situação dolorosa é a atitude mais racional. Se entregar a ela é ser derrotado... Mas eis o grande desafio da mulher gestante que cogita a possibilidade de parir: Como vou enfrentar a dor, algo tão supremo e que se manifesta com tanto poder sobre mim? E então, convido você a dar uma chance ao improvável: Mergulhar na dor. Buscar compreendê-la enquanto fenômeno natural.

O trabalho de parto é um processo. E como tal, possui algumas etapas que são definidas de diversas formas: Fase latente, ativa, expulsivo... No entanto, a melhor forma que encontrei de assimilar essas etapas é conhecendo o que elas representam, pois cada mulher é um infinito, o que significa dizer que nada é absoluto ao ponto que se diga: em todas as gestantes acontece de forma X ou Y. Fisiologicamente, o que uma mulher precisa enfrentar para parir?

Quando se aproxima o final da gestação, é normal que venham as contrações, que são como ondas, que vem e vão. Sentir contração não significa estar parindo. Significa que o colo do útero está em processo de dilatação no intuito de abrir passagem para ao bebê, que também exerce pressão na região. A tendência é que essa etapa seja a mais longa do trabalho de parto, até que as contrações se tornem cada vez mais intensas e regulares.

É importante lembrar que este processo não é apenas fisiológico. Neste meio tempo, é preciso contribuir para a segurança e determinação da mulher, através do olhar, carinho, compreensão. O simples “estar a sincera disposição” faz a diferença. Por influência da modernidade e da sociedade “a mil” em que vivemos, nós mulheres deixamos pra traz nosso lado selvagem e instintivo. Reencontrar esse lado só tem a contribuir para que o processo se desenrole e a mulher consiga protagonizar o seu momento, deixando de olhar para o mundo externo e olhando para si, conhecendo sua força e poder.

A contração e seu processo de preparar a passagem junto à pressão que o bebê exerce afinam o colo do útero, culminando na expulsão do bebê. É o momento de fazer força até que a cabeça dele surja formando o “círculo de fogo”. Algum tempo depois, aplacenta, responsável pela nutrição e troca hormonal entre mãe-filho durante a gestação, também é expulsa. É o desfecho de um ciclo e o início de outro. Não é a toa que parir é dar a luz. A dor de cada fase do trabalho de parto é um pedido de recolhimento. Mergulhe, se permita, não resista, se entregue. A dor do parto é grande, mas é preciso parir!

Texto por Kauhara Hellen, coordenadora do Ishtar Fortaleza.